MARCAS DA FINITUDE

     Fiquei com muita piedade, e falei para ela se acalmar, que ainda bem que ela tem os filhos e netos para se consolar, que é assim mesmo, os idosos vão embora na hora que Deus resolve dar o último suspiro e ainda bem que não sabemos a hora. É muito triste as perdas...
     Ela fala em morte o dia todo, é complicado, e a gente vai buscando energia para falar que ela só vai morrer quando Deus assim permitir. É bem paradoxal, pois quando ela sente qualquer dor ou mal estar pede para ir ao médico. Logicamente morre de medo da morte.
     É muito apegada aos três filhos, é até doentia o seu apego, pois mesmo eles sendo casados ela liga o dia inteiro e eles tem que dar satisfação de tudo que vai fazer, afetando muitas vezes até o casamento, não só meu como de suas filhas. Não gosta que os filhos tenha muito contato com os consanguíneos, que é bobagem ficar convidando eles para almoçar, se reunir etc. o pior é que já até falou comigo muitas vezes, até meu esposo evitar de ir na casa de meus irmãos. É uma situação muito pesada para mim, mas de vez em quando saio sem ele, algum irmão quando fazem festinhas de aniversário ou casamento mandam alguém me pegar, ou minha filha me leva. Amo demais a minha família também, somos oito irmãos muito unidos, com poucos conflitos que não duram. Destaco que ela sempre teve este comportamento mesmo antes de perder sua família, não é transferência.
     Finalmente falando, fiquei triste ontem e pensei em minha avó paterna que falava a mesma coisa quando era viva, só havia ela da família. É muito penoso para qualquer um ir perdendo os membros queridos, pais e irmãos. Perder avós e tios já é difícil. É preciso tem muita força para lidar com a finitude. Me deu um nó tão grande, me deu saudade de meus pais idosos que moram em Minas...

Norma Aparecida Silveira Moraes

Enviado por Norma Aparecida Silveira Moraes em 11/06/2017

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