ALEGRIA DE VIVER NA VELHICE...
Ontem domingo, foi um dia inusitado, choveu o dia inteiro, mas nem por isso a alegria deixou de vibrar. Minha sogra estava serelepe, e uma sobrinha estava de acompanhante pois ela tem suspeita de Mal de Alzheimer. Apesar de reclamar de tonteira o dia todo, ela fala que tem que andar para sarar a tonteira, sabemos que quem está com tonteiras gosta é de ficar quieto num canto até passar. Ela usa o recurso da tonteira também para chamar a atenção pois nem sempre ela está mesmo com tonteira, ou se está é pouca. Ela aprecia ficar na casa dela, e há acompanhante durante o dia, a tarde ela vem dormir com um dos filhos. E almoça também conosco. Ela sabe bem também manipular os filhos do jeitinho que ela quer, pois quer sempre os filhos por perto, sempre foi assim e agora o hábito ficou mais acentuado. Ela deseja ficar na casa dela com um filho por perto, mas os filhos não podem ficar, e ela por outro lado não aceita ficar na casa dos filhos. Mora pertinho e quando não tem acompanhante no final de semana é preciso leva-la umas duas ou três vezes na casa dela que é pretinho. Ontem ela ligou para meu esposo falando que estava muito mal, que era para ele ir lá, então meu esposo pediu para falar com a acompanhante e esta disse que ela estava tão bem que já não aguentava andar atrás dela. Ele deu bronca na moça, porque a moça não quis mentir para nós. Mais tarde a acompanhante disse que ela estava vendo um programa de TV e estava cantando aquela música de Cascatinha e Inhanha, Índia, pois a velhinha cantou a música o dia todo, e vinha cantando pela rua a fora, quando a acompanhante viu havia várias pessoas cantando a música, ela resolveu vir aqui em casa e eu estava com meus filhos, foi uma cantoria que só. A música índia foi cantada várias vezes, chamando até atenção dos vizinhos. A alegria foi geral, e ela lembrava da música toda. Há dias que ela é tão lúcida que chegam a duvidar que ela tem mal de Alzheimer já que ela não aceitou fazer a ressonância magnética da cabeça para comprovar. Apesar de seus 87 anos, não tem hipertensão, diabetes, colesterol, enfim nenhum problema de saúde. As filhas estão mais doentes do que ela inclusive meu esposo. Ela dá muito trabalhão pois passa o dia todo ligando para um e para outro falando que está doente, que vai morrer. Mesmo eles indo lá, quando vão embora a ligação recomeça. Mas passa dez minutos sem fazer a vontade dela ela esquece a doença. Quando ela fala que está quase morrendo que a gente percebe que é manha para os filhos obedecerem a ela, a gente dá tic tac, para ela, num instante a doença vai embora. Muitas vezes ela já deu susto nas duas filhas fingindo desmaiar, mas quando vê que as filhas se assustam ela fala que estava só brincando. Quando ela reclama muito da vida, pois nada está bom, se não fazer a vontade dela, eu e meu esposo falamos para ela que ela tem uma vida maravilhosa, com três filhos, genros e nora cuidando dela com todo carinho, que ela tem tudo o que deseja, para ver se ela se coloca um pouco no lugar do outro. Por uns instantes ela para com isto, mas quando quer alguma coisa começa tudo de novo. O problema todo dela é que ela quer ser livre sair sozinha, e reclama sem parar que perdeu a liberdade, que é uma prisioneira. Eu também creio nisto, privaram ela da liberdade, nunca deixam ela fazer o que deseja. Fico no meu canto, mas quando é a minha semana de cuidar dou mais liberdade para ela, e ela aqui em casa só dá trabalho quando quer andar o dia todo na rua. Mas quando meu esposo não está, a deixo um pouco sozinha na casa dela, para que ela possa se sentir livre, então ela não dá trabalho quase nenhum quando é minha vez de cuidar dela. A velhice pode ter destas coisas, temos que cuidar sem privar a pessoa de liberdade total. Na verdade minha sogra é uma pessoa alegre que deseja aproveitar a vida do jeito dela, não do jeito que os filhos desejam. Nem tudo precisa ficar vigiando. Norma Aparecida Silveira Moraes
Enviado por Norma Aparecida Silveira Moraes em 23/01/2017
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